sexta-feira, 25 de julho de 2014

Educação financeira: quando começar e quanto dar de mesada?


Especialista compara iniciativas familiares e dá dicas sobre a fórmula ideal de abordar o assunto de forma saudável com os filhos
Um valor fixo estipulado por mês, o incentivo para produzir e vender algo ou o desconto por penalizações comportamentais com base em regras preestabelecidas? Afinal, qual a fórmula ideal para dar mesada aos filhos e ensinar lições desde cedo sobre educação financeira? O assunto ressurge depois que Paulo Lima, de Porto Alegre, pai de Larissa, de dez anos, incentivou a filha de dez anos a escrever um livro e a vendê-lo na internet. Em vez de simplesmente aceitar o pedido por mesada, ele a motivou a produzir algo relacionado aos seus interesses – no caso, a leitura e a escrita – e, dessa forma, deu lições não apenas de empreendedorismo, mas de educação financeira. Outra iniciativa relacionado ao mesmo tema, desta vez em Rondônia, gerou bastante repercussão no ano passado. Isso porque o juiz Vitor Yamada, de Rondônia, definiu um conjunto de regras para o pagamento, com descontos para desobediência, notas baixas e mau comportamento. Cada "infração" representava um valor a menos na tabela, e a medida em que elas iam sendo cometidas, os cofrinhos dos filhos Giullia, oito anos, e Vitor, seis, ficavam mais vazios.



Para Márcia Tolotti, psicanalista e consultora em educação financeira, as duas iniciativas demonstram pais atentos aos aspectos mais sofisticados da educação, como a educação financeira. Ela, porém, alerta:



– Nota 10 por se preocuparem com isso, mas as diferenças são muitas. O primeiro caso é motivador, desenvolve, e o segundo, pune. Entre as duas, a do pai que incentivou a produção de algo tem muito mais chance de gerar resultados de longo prazo – diz.



Segundo a especialista, uma tabela rígida (com os descontos) até pode gerar bons resultados no curto prazo, mas se torna um conjunto tão inflexível de regras e de transgressões que a criança, além de não aguentar por muito tempo, cria uma associação entre dinheiro e punição que poderá comprometer a saúde financeira no futuro.



– O caso do pai de Porto Alegre que incentivou a criação do livro é a versão digital das crianças que há 40 anos vendiam limonada na frente da casa. Daquelas que há 30 anos faziam pequenos serviços e daquelas que há 20 anos vendiam seus livros e brinquedos. Nosso país é feito de empreendedores, e o pai que incentiva a escrever segue a linha de pais saudáveis que geram segurança nos filhos, que apoiam e ajudam eles a saírem da zona de conforto.



Mas, então, os pais não podem condicionar a mesada a nada?



– Podem sim, mas jamais a uma lista que até os adultos teriam dificuldade de seguir. Outro aspecto é que o pai se torna um fiscal financeiro do filho. Considero muito arriscado o método e, a longo prazo, ineficaz. E quando a criança fizer além do esperado, vai receber mais? A monetarização daquilo que deve ser natural (cumprir normas interpessoais e sociais como as que estão na tabela) ajudará? – afirma.



Influência familiar na consciência financeira

Outra dúvida dos pais é quanto à influência de familiares próximos, como os avós, os tios e os primos. Como lidar se as regras são diferentes em cada casa?



– Se a criança está bem preparada, irá saber como trabalhar. Por exemplo, sobre os familiares que preferem dar dinheiro no Natal ou no aniversário, a regra é a mesma: uma parte deve ser guardada, e outra pode ser usada em um projeto, uma aquisição. A lógica de uso do dinheiro deve ser a mesma, independente da fonte, assim não haverá maiores problemas.



Repasse financeiro pode começar aos 3 anos

Segundo Márcia, não há uma idade ideal para começar a dar mesada, embora esse processo possa se iniciar com crianças a partir dos três anos, dando algumas moedas, escolhendo um objeto a ser adquirido e complementando o restante.



– O mais importante é sempre mostrar o processo de escolha envolvido nos gastos. Para se ter algo, é inevitável "não ter algo". A escolha é a grande lição a partir desta idade. Ensinar as crianças é ajudar para que tenham uma capacidade de esperar, de tolerar a frustração em não ter tudo e na hora, e é construir com elas a percepção das consequências das escolhas.





Mas se a dúvida é quanto à efetividade da mesada na educação infantil, Marcia é clara:



– Ajuda, sem dúvida. É a forma de educar mostrando como ganhar, poupar, gastar e doar. Pontos fundamentais na relação de qualquer pessoa com o dinheiro.

Educação financeira: quando começar e quanto dar de mesada? Public Domain Pictures/divulgação

Aluna : Thays Nunes
http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vida/bem-estar/noticia/2014/07/educacao-financeira-quando-comecar-e-quanto-dar-de-mesada-4553904.html

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