terça-feira, 22 de julho de 2014

Injeção de moeda nos mercados põe em confronto fundamento e preços


Nos últimos seis anos, os governos das principais economias do planeta não deram trégua aos ministros da Fazenda, Finanças e aos Bancos Centrais, provocando intensas mobilizações em busca de instrumentos para erguer as economias que perderam o pé na sequência da crise financeira de 2008. No entanto, a deterioração persistente das condições econômicas, decorrente da transmutação da crise – que de bancária passou a de dívidas soberanas – minou esses esforços e praticamente limitou a ação das autoridades monetárias a pedalar ciclos contínuos de política monetária fortemente expansionista. O resultado dessa ação foi a conhecida inundação de dinheiro em todos os mercados e que nada parece conter – nem mesmo a iniciativa do Federal Reserve (BC americano) de reduzir paulatinamente as compras de ativos em mercado e já tendo sinalizado o encerramento dos estímulos monetários em outubro.
Esse excesso de dinheiro disponível no mundo, afirma Alexandre Póvoa, diretor da Canepa Asset Management, é a fonte da contraposição entre fundamento X preço de todos os ativos negociados em mercado e que transformou-se em grande dificuldade imposta a gestores e investidores. Em relatório sobre as aplicações financeiras no segundo trimestre, Póvoa aponta o Brasil como o maior exemplo de complexidade na análise de liquidez versus fundamentos.
“Os dados econômicos vêm piorando rapidamente, a inflação não cede e os índices de confiança não conseguem transmitir otimismo para o futuro. O modelo de crescimento baseado em consumo e exportações se esgotou e o governo brasileiro, apesar de todos os esforços, não conseguiu encontrar a fórmula correta para expandir a taxa de investimento. Na indústria a queda livre se acentua. Os estoques não baixaram de forma importante e isso inibe até recuperações cíclicas. O setor de serviços se mantém, graças à força do emprego. Porém, por mais que exista a questão demográfica – mais gente saindo do que entrando no mercado de trabalho – e a falta de mão-de-obra qualificada, resta saber até quando a taxa de desemprego vai se manter no patamar atual que está historicamente baixo.”
É neste contexto que a correlação histórica existente entre o mercado brasileiro e as bolsas internacionais se rompe, demonstra a equipe da Canepa, que destaca o conceito de “globalização” –  popular com a crise do México, em 1994 --  e que assegurou a proximidade dos mercados. Nos últimos seis anos, porém, há um descolamento crescente do mercado de ações brasileiro dos demais. E é neste período que influências internacionais dividem a responsabilidade com questões domésticas pelo descompasso que o IBX apresenta frente a concorrentes.
Para comparar rentabilidade e evitar problemas decorrentes de composição do Ibovespa – que teve em sua composição a OGX, como o maior exemplo – a Canepa Asset usou o IBX como proxy da bolsa brasileira e esse indicador, levando em conta a oscilação das moedas, foi de 11% em dólar abaixo do desempenho de outros índices de mercados emergentes (MSCI Emerging Markets) de meados da década de 1990 até o segundo trimestre de 2014; 29% em dólar inferior ao Euro Stoxx 50; e 25% em dólar abaixo do S&P.
As mudanças na correlação da bolsa brasileira em relação às bolsas de países desenvolvidos tornaram-se significativas, sobretudo, com o aumento da volatilidade de preços das ações em função das eleições brasileiras.

Fonte : http://www.valor.com.br/valor-investe/casa-das-caldeiras/3622292/injecao-de-moeda-nos-mercados-poe-em-confronto-fundamento-e
              
  Grazielle Rocha

Nenhum comentário:

Postar um comentário