Muitos empreendedores que passam por uma rodada de investimento têm um
desafio em comum: equilibrar, sem perder o foco, o papel de gerir a
empresa ao mesmo tempo em que precisa tocar o processo de captação. Um
motivo para isso é a relação sentimental que o empreendedor cria com a
empresa em um momento de assumir novos sócios. Outra razão é a perda de
foco entre esses papéis que ele deve desempenhar. Porém, mesmo que as
negociações ocupem muito do seu tempo e da sua atenção, é importante
olhar para o futuro para que sua empresa cresça cada vez mais.
Leonardo Simão, fundador da Bebê Store, contou para a gente a história da época em que fez captações de investimento:Endeavor: Como você se planeja para passar por uma rodada de investimento?
Leonardo Simão: Realmente é uma atividade que demanda
muito tempo e foco do empreendedor. Para entrar no processo de captação
de investimento é preciso se planejar com antecedência, que já tem que
fazer parte do seu dia a dia. Buscar capital não é algo que você pode
fazer de última hora, e sim um processo continuo durante o ano todo.
Então eu sempre me programo, faço bastantes viagens para apresentar a
empresa. Só o ano passado eu fiz umas quatro. Diferente da época de
escola, estudando um dia antes da prova não funciona. É um processo, não um momento.
Um ponto muito importante dessa fase: é comum os fundos prolongarem a
negociação por 3, 4 meses até para sentirem se você está desesperado ou
não e sentirem a solidez das finanças e da performance. É um test-drive
pra saber se o que você apresentou não foi um período de sorte, e para
avaliar se sua projeção esta fazendo sentido. Se ele perceber que você
está no desespero pra terminar o mês, ele tem mais barganha de
negociação. Isso é algo que você não deve deixar transparecer.
Como tocar o dia a dia sem perder o foco?
Suas atividades como CEO têm que estar mais alinhadas do que nunca,
porque você não pode “deixar a peteca cair”. Por isso, você tem que
delegar. Um ponto fundamental é que nesse estágio você tem que estar com
uma equipe boa, uma equipe responsiva que consiga cuidar do dia a dia.
Ter consciência de que você tem um time bom que segura a peteca. Você
deve saber delegar tarefas e saber cobrar, mas sem que você tenha que
fazer o detalhe, porque você acaba não tendo tempo pra isso.
Que aprendizados você levou de uma rodada para outra, em relação a dividir os papéis e manter o foco?
Você sempre aprende muito, não para de aprender. Aprendi muito sobre
modelos de gestão, delegar melhor e cobrar efetivamente quando você não
está presente nos detalhes dia a dia. Busque sempre formas de gestão
mais ativas e com foco em resultado, é fundamental não microgerenciar
para não perder o foco no todo e conseguir escalar a empresa. É
impressionante como um bom time responde bem ao acréscimo de
responsabilidade que você dá a eles quando realmente acredita e confia
na capacidade de resolverem os problemas sem a sua supervisão direta.
A sua relação com a empresa mudou nesse processo?
A empresa se profissionaliza nesse processo. Hoje nós somos auditados. A
empresa cresceu muito, então mudou muito em decorrência do crescimento.
Uma empresa que há 4 anos não existia, hoje tem mais de 200
funcionários e faz 30 mil pedidos por mês. É um volume de crescimento,
uma velocidade muito grande. Essa velocidade foi proporcionada por esse
capital que entrou. Então tudo muda naturalmente. Você tem que prestar
contas, a contabilidade tem que estar organizada, tudo tem que estar
organizado.
Você considera que tomar mais tempo para conhecer os fundos
contribui para o sucesso do processo de captação e da relação entre
investidor e empresa investida?
Eu dei muita sorte com a escolha dos meus fundos. Isso é um ponto que é
muito importante, porque às vezes o empreendedor está desesperado para
captar investimento pra resolver a questão financeira e acaba criando um
problema societário. Se você não estiver alinhado com seus fundos, isso
pode tornar sua vida muito difícil.
Isso tem a ver com a seleção que vocês faz, mas também tem muito de sorte. Por exemplo, no Atomico,
o Nicklas (Zennström, fundador do Skype e investidor) foi empreendedor.
Então ele conhece a posição do empreendedor. Se você pega um fundo
puramente “banco” é diferente, eles não estão relacionados com a questão
de pessoas e de gestão. Eles olham mais os números. Ficam falando “faz
esse número, esta cobertura, esta margem, este crescimento...”. Mas na
pratica não é tão simples, precisa ver o que está acontecendo, “faz esse
número”! Existem pessoas por trás dos números de uma empresa.
Depois fizemos uma nova captação com a W7 e também foi excelente. Uma
grande vantagem é que eles são brasileiros. É uma turma jovem que
entende as dificuldades. Então o fundo esta ali para somar e resolver os
problemas, e não ficar falando “faz, faz, faz, se vira”. Sentir que o
fundo está alinhado é algo que tem que ser sempre pensado. Quando você
faz reunião com o fundo para pré-captar, deve pensar que vai se
relacionar muito e por muito tempo com essas pessoas, você tem que
refletir sobre como você se sentiu. Sabe aquele feeling quando você conhece uma pessoa? Aquela energia positiva - ou não. É um casamento. Eu confio muito nesse tipo de instinto.
fonte:http://www.endeavor.org.br/artigos/financas/acesso-a-capital/como-passar-pelo-processo-de-investimento-sem-perder-o-foco
fonte:http://www.endeavor.org.br/artigos/financas/acesso-a-capital/como-passar-pelo-processo-de-investimento-sem-perder-o-foco
Postado por: Tiago Barbosa dos Santos
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